terça-feira, 24 de março de 2009

Exposição Rastilho amplia território da Performance e repensa seu lugar na arte visual contemporânea

"O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) abre a exposição coletiva “Rastilho”, na próxima quinta-feira, 26, às 19 horas. A mostra exibirá trabalhos dos artistas paulistanos André Komatsu e Marcelo Cidade e do cearense radicado em São Paulo,Yuri Firmeza, com curadoria de Paula Dalgalarrondo. Gratuita ao público, a exposição ficará em cartaz no CCBNB-Fortaleza até 26 de abril deste ano (visitação de terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e domingo, de 10h às 18h).

Como o próprio nome da exposição sugere, a mostra apresenta obras que têm um caráter indicial. RASTILHO, um vestígio, uma pegada, um sinal, um rastro... As performances exibidas na exposição são mediadas por outras mídias – seja o vídeo, a fotografia ou o objeto. Dessa forma, não se tratam de performances “ao vivo” – algo imprescindível há tempos atrás. Os registros das performances não são meramente documentais, são registros pensados poeticamente como trabalhos oriundos de ações.

Esta exposição é o resultado de pesquisa teórica realizada pelos três artistas acerca de indagações relacionadas ao lugar da performance nos dias de hoje. O que mudou no caráter performático desde suas primeiras práticas até a atualidade? Que questões são reiteradas e que questões são reinventadas pela nova geração de artistas que trabalham com performance? Ainda é inerente à performance o seu caráter “transgressivo” e seu distanciamento do mercado, ou são outras reflexões que a nova geração apresenta?

Essas questões que norteiam a exposição “Rastilho” lançam um olhar sobre as práticas performáticas contemporâneas. Com a exposição, propõe-se uma reflexão sobre as singularidades e pertinências das ações performáticas dentro de um contexto atual. O contexto de performance expandida é explorado em obras hibridas que têm na performance o seu ‘lugar poético’.

Na mostra, são apresentados registros de performances-vídeos, fotografias e objetos – que são pensados enquanto trabalhos plásticos. “Vale ressaltar que tais trabalhos não são meramente registros documentais. É nesse contexto que nos interessa pensar as novas possibilidades da performance hoje e a expansão de seu campo por outras mídias. Um outro elemento que delineia a pesquisa dos artistas e que é explorada na exposição é a relação entre arte e cidade. Nessa perspectiva, são apresentados trabalhos em linguagens diversas; no entanto, são privilegiados vídeos, fotografias, objetos e instalações”, afirma a curadora Paula Dalgalarrondo.

Para pensar essas questões e instaurar uma reflexão sobre a linguagem da performance, a curadora Paula Dalgalarrondo convidou três artistas que têm, em suas produções, muitos pontos que contribuem para esclarecer e problematizar o campo performático contemporâneo.

Os três convidados se inserem na nova geração de artistas brasileiros, sendo dois paulistas (Marcelo Cidade e André Komatsu) e um cearense radicado em São Paulo (Yuri Firmeza). Os artistas apresentam em suas trajetórias trabalhos consistentes e participações em exposições relevantes no cenário nacional e internacional, como: 27º Bienal de São Paulo; Territories – Salle Michel Tourliere (Beaune, França); e Bolsa Pampulha (Belo Horizonte/MG); Rumos Itaú Cultural – SP/RJ/SC/CE/PA/GO, entre outros.



Dinâmica da exposição

Os trabalhos reunidos nesta exposição convergem para uma série de aspectos, o que potencializa a exposição na sua integridade. Porém, em outros aspectos, os trabalhos divergem, entram em conflitos positivos – o que não diminui a potência poética da exposição, do ponto de vista coletivo, mas, sim, afirma as singularidades de cada obra.

Os vestígios das ações ecoam e recriam-se nas linguagens utilizadas pelos artistas e na poética própria dos trabalhos. O ato de deslocamento, os rastros e as reverberações que esse ato provoca na cidade é explorada em trabalhos como o vídeo Acinzentamento, de Marcelo Cidade; o vídeo Demarcação de Território, de Yuri Firmeza; e o Corpo Duro, vídeo de André Komatsu.

No vídeo Acinzentamento, Marcelo Cidade enche uma mochila com cimento em pó, faz um pequeno furo no fundo da mochila e caminha, demarcando uma rota de passagem efêmera, por diversos lugares – normalmente instituições ou lugares com propósitos específicos para Arte. Uma “contaminação de cidade” nos espaços expositivos, geralmente “neutros” e assépticos. A ação se encerra quando o conteúdo da mochila acaba.

Em Corpo Duro, vídeo apresentado pela primeira vez na exposição resultante da participação do artista na Bolsa Pampulha, no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), André Komatsu caminha pelas ruas da cidade coletando dejetos de edificações, fragmentos de alvenaria, pedras, ruínas, na tentativa poética de apreensão do espaço. Com algum tempo de vídeo, o artista encontra-se com as mãos, a mochila, os bolsos completamente cheios de entulhos que começam a não ter mais lugar para serem acolhidos e passam a desmoronar, nos remetendo a uma desconstrução.

Demarcação de Território, de Yuri Firmeza, consiste em um vídeo site-specific que registra a viagem do artista de São Paulo, onde mora atualmente, até Fortaleza, lugar da exposição. Durante a trajetória da viagem – via terrestre – o artista demarca de forma simbólica o percurso pelo qual passou. Os marcos – indícios da presença do artista – serão registrados em vídeo, o qual será apresentado na exposição.

Os limites territoriais, conceituais, formais, anteriormente bem definidos, apresentam-se agora como zonas instáveis. Dentro desse contexto, os vídeos acima citados operam nos meados das retificações da cartografia vigente.

O ato de andar e a relação com a cidade, presente nos trabalhos, são reiterados em outros vídeos, com um outro viés. Trata-se de derivas por “cidades incógnitas”. A trama urbana é pensada, nesse segundo recorte curatorial, de forma labiríntica. Cidade de caminhos tortuosos, cidade de caminhos desconhecidos, cidades dentro de cidades, onde a perda de referência torna-nos estrangeiros de nosso próprio habitat.

É o caso do vídeo Oeste, de Komatsu, onde podemos ver o artista com a posse de uma bússola que indica a direção Oeste. O artista segue as coordenadas indicadas pela bússola e percorre por territórios desconhecidos, sempre norteado pelo seu “guia”, a bússola. O artista se depara com inúmeros obstáculos ao longo do percurso, sendo, alguns, instransponíveis – muros altos, prédios.

Em Por que Duchamp Caminhava?, Marcelo Cidade atravessa extremos, a pé, pela cidade de São Paulo. Sem destino pré-estabelecido, o artista simplesmente anda. O que vemos no vídeo é o artista de costas, de mochila e walkman, perambulando e desvendando a cidade.

No vídeo Entre, de Yuri Firmeza, nos deparamos com imagens de frestas, de lacunas entre ruas, quarteirões e prédios. São becos, vielas, lugares desabitados que se assemelham a atalhos. Esses “atalhos urbanos”, fendas entre dois lugares, se configuram como lugar de passagem; foram filmados pelo artista e editados sequencialmente como sendo um grande labirinto. O artista não aparece em cena, vemos apenas o espaço labiríntico que nos convida a entrar.

A exposição se completa com trabalhos onde há, de forma direta, a impregnação do corpo pela cidade. Um corpo que incorpora a cidade, explicitamente, em sua constituição física.

O objeto intitulado, Disseminação Concreta, de André Komatsu, consiste em um corpo esparramado no chão do espaço expositivo, todo constituído de fragmentos de construção, ruínas e vestido, à semelhança do artista, com camisa, calça e tênis.

Por fim, o vídeo Fuzilamento da performance realizada, por Marcelo Cidade, na exposição CORPO. Despido de suas roupas o artista leu, diante de uma platéia, a lista com nome de diversas revoluções político-sociais. Enquanto lia, o artista era alvo de blocos de massa de cimento que eram arremessadas pela plateia. “A performance, que durou o tempo da leitura, soou como declamação e um lamento. Devido ao uso do cimento e ao arranjo de nomes que remete ao procedimento dos poetas concretistas, a ação foi apelidada ironicamente de poema concreto”, afirma Marcelo Cidade.

Os trabalhos apresentados na exposição “Rastilho”, seguramente, ampliam o território da performance, fazendo-nos repensar o sobre “o lugar” da performance na contemporaneidade."

Fonte:Assessoria de Imprensa do Centro Cultural Banco do Nordeste

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