O futuro dos jornalistas entra na agenda social
Por Carlos Castilho em 25/2/2009
Até agora a grande preocupação dos meios informativos era saber o que acontecerá com os jornais e com a imprensa. Mas agora começa a surgir uma nova incógnita. O que acontecerá com os profissionais do jornalismo, independente da sobrevivência ou não das empresas em que trabalham?
Os números do desemprego de jornalistas nos Estados Unidos passaram a ser assustadores. Segundo um artigo publicado na edição de fevereiro/março da American Journalism Review, o contingente de profissionais empregados na imprensa norte-americana encolheu 15% só no ano passado, o que representa uma força de trabalho de 7.800 profissionais fora das redações.
Em janeiro de 2008, 52 mil jornalistas integravam as folhas de pagamento dos principais veículos da imprensa. Um ano mais tarde, segundo o blog Paper Cuts, o total caiu para 44.200. Só nos dois primeiros meses de 2009, mais 2.620 profissionais perderam o emprego, superando o total do ano de 2007.
Se for mantida a tendência, 2009 pode se tornar um ano ainda mais trágico do que 2008 para o jornalismo norte-americano. No ano passado, o número de demissões nas redações foi três vezes maior do que o pior ano desde 1978, quando a American Society of Newspaper Editors começou a produzir estatísticas sobre mão de obra na indústria de jornais.
No ano passado, o escritório de estatísticas sobre mão de obra do governo norte-americano revelou que 22.400 funcionários (incluindo as redações) de empresas jornalísticas perderam seus empregos entre janeiro e outubro.
Atropelados por uma avalancha de demissões, os jornalistas norte-americanos começaram buscar alternativas combinando atividades empresariais na área de sua atuação com a produção de informações. É o caso do autor de uma coluna sobre vinhos que resolveu abrir um negócio usando o seu conhecimento e contatos na área.
O futuro dos jornalistas norte-americanos passou a ser uma questão tão importante quanto o futuro das empresas onde trabalham ou trabalhavam. Mas não é só o futuro deles que está em questão. Toda uma atividade está sendo colocada diante de um duro exame de consciência que não se limita a questões do tipo “onde eu errei”, mas a problemas muito mais complexos.
A primeira das grandes questões em debate tem a ver com papel do jornalista na nova sociedade digital. O jornalismo já não é mais um emprego fixo porque a tendência ao trabalho autônomo é irreversível. O custo de manutenção de grandes redações tornou-se proibitivo, porque as margens de lucro despencaram e os acionistas de grandes grupos jornalísticos não se conformam com dividendos menores.
Está deixando de ser uma profissão porque a internet alterou radicalmente o modo de produzir informações ao dar a qualquer pessoa a possibilidade de publicar notícias, dados e fatos na Web. O professor e consultor Clay Shirky, autor do livro Here Comes Everybody (Aí vem o qualquer um...) diz que os jornalistas estão enfrentando hoje os mesmos dilemas dos escribas da era renascentista, quando a imprensa de Gutenberg fez com que eles deixassem de ser o caminho obrigatório para qualquer publicação.
Segundo Shirky, o jornalista já está enfrentando mudanças consideráveis não apenas na sua relação com as empresas de comunicação mas principalmente na sua relação com a informação. O fim das grandes redações e a perda da exclusividade na publicação de notícias tendem a transformar o jornalismo numa atividade especializada e menos numa profissão — como a medicina e engenharia, por exemplo.
O campo específico de conhecimento do jornalista tende a se diluir na esfera da comunicação na medida em que a transmissão de informações passa a ser um componente da vida social de todos nós, e não mais uma atividade dependente de um grupo de pessoas, como aconteceu com os escribas e tantas outras profissões que perderam sua importância relativa ao longo da história.
Isto não quer dizer que o jornalista desaparecerá. Ele continuará a existir e a ter uma função social que, ao que tudo indica, não estará mais atrelada obrigatoriamente às empresas de comunicação. As corporações estão se orientando cada vez mais para o ramo da comunicação e menos para o do jornalismo, porque este deixou de ser tão lucrativo como no passado recente.
O caráter profissional no exercício do jornalismo será dado pela opção por essa atividade como ferramenta para lograr a sustentabilidade financeira e pela preocupação em desenvolver, preservar e disseminar valores relacionados ao uso da informação como interface na comunicação humana.
Este é um debate que está apenas começando e que vai dar muito pano para manga. É um tema complexo, que foi tratado aqui apenas em linhas gerais, porque há ainda muita coisa a ser analisada e detalhada."
Fonte:Texto reproduzido do site Observatório da Imprensa
Opinião de Marcellus Rocha:Concordo em parte com essa reflexão.Temos que defender a formação superior dos jornalista para cumprirmos de forma ética,responsável e honesta nossa função social.
domingo, 1 de março de 2009
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