Na disciplina Estudos Culturais,o professor Alexandre Barbalho disse que seria uma visão reducionista achar que a BBC é um modelo de TV Pública.Mas ela é sim.Vejam abaixo parte de uma entrevista sobre o assunto extraída do site Fazendo Mídia:
ROGÉRIO SIMÕES, AMÉRICO MARTINS E JAMES PAINTER
“Uma entrevista diferente”. Foi assim que algumas pessoas classificaram a entrevista que o Fazendo Media publica nesta edição. Diferente por quê? Porque eu conversei com três pessoas ao mesmo tempo. O assunto é a British Broadcasting Corporation, ou BBC, uma senhora de 82 anos, com mais de 150 milhões de ouvintes. No início, estávamos eu e dois entrevistados: Américo Martins e Rogério Simões, que deram palestras na PUC-Rio nos dias 15 e 16 de março, durante um seminário sobre radiojornalismo, organizado pela PUC, pela CBN e pela BBC. Martins foi repórter e editor-assistente de Política da Folha e coordenador de Política do JB, em Brasília. Em Londres, colaborou com várias publicações, entre elas O Estadão, O Dia, Istoé e a revista Primeira Leitura. É pós-graduado em Economia pelo Birkbeck College e mestre em Jornalismo Internacional pela City University, de Londres. É o diretor da BBC Brasil. Já Simões, jornalista formado pela USP, trabalha na BBC Brasil desde março de 2001. Antes, atuou na Folha, onde foi editor de Opinião, correspondente em Londres e repórter especial, entre outras funções. Foi ainda subeditor de Internacional da revista Veja e redator-chefe do portal de futebol Pelé.Net. Trabalhou também no Estadão, na Folha da Tarde e na Gazeta Mercantil. Simões é o editor-chefe da BBC Brasil. O terceiro entrevistado, que veio direto de Londres e se atrasou no aeroporto por causa da “operação padrão” da Polícia Federal é James Painter. Britânico, muito reservado, chegando aos 60 anos, apresenta-se de forma humilde, envergonhado, desculpando-se muito pelo atraso e por não falar nosso idioma. “Yo no hablo Português. ¿Puedo hablar em Español?”. “Si. Puede”. E lá vamos nós, com uma entrevista a três, em Português e Espanhol. Ah, sim: Painter é o diretor da BBC América Latina.
Fazendo Media - Para quem já trabalhou em grandes veículos nacionais, quais as diferenças éticas entre as imprensas brasileira e britânica? Américo Martins - Olha, eu acho que a Grã-Bretanha tem a melhor imprensa do mundo, que são os jornais mais tradicionais. Eles são bastante éticos, no momento que assumem suas posturas políticas, sem enganar o público. Mas tem também a pior imprensa do mundo, que são os tablóides sensacionalistas que não respeitam a privacidade de ninguém. No entanto, esses tablóides sempre enfrentam problemas, porque temos quatro principais códigos de ética e a cobrança sobre os jornalistas é muito grande. A gente tem o código do sindicato; o de auto-regulamentação, que é o PCC [Press Companies Comission, Comissão das Companhias de Imprensa]; as normas internas de cada empresa e ainda a Ofcom, que é um órgão superior. Então, é muito difícil alguma atitude condenável ficar impune. Lá a gente tem um bom exemplo, que foi o jornal News Of The World, que tem tiragem superior a 4 milhões de exemplares aos domingos e publicou uma lista com nomes, endereços e fotos de condenados por pedofilia que já haviam cumprido pena. O jornal foi processado e hoje eu duvido que eles voltem a fazer coisa parecida. Aqui no Brasil a gente tem o caso da Escola Base, que rendeu uma indenização insignificante de 10 mil reais. Outra coisa é essa revista [pega o exemplar de Veja datado de 17 de março]. É proibido publicar fotos em que se identifique uma pessoa morta ou que esteja sofrendo. Se a Veja fosse publicada lá, seria processada pelo povo. Infelizmente aqui no Brasil não é assim.
FM - Então vocês devem ter uma apuração mais cuidadosa... Rogério Simões - Pois é. A BBC não é simplesmente uma TV, uma rádio ou uma página na Internet. Nossos serviços são usados como fontes seguras. Além disso, somos uma empresa pública, paga pelo povo. O objetivo é sempre levar as notícias às pessoas com rapidez, mas também com precisão. Nós recomendamos aos jornalistas: duvide sempre, nem que seja por alguns segundos, porque a dúvida é amiga da informação; além disso, pense no contexto e nas implicações da notícia que será dada. A gente, por exemplo, só dá uma notícia de agência, se puder ser confirmada e se, pelo menos, duas grandes agências derem. A gente pode se dar esse luxo, porque nós temos 250 correspondentes espalhados em 50 escritórios pelo mundo, além dos mais de 3 mil free lances que sempre trabalham com a gente e da equipe que trabalha em Londres. Então, a gente prioriza a informação do correspondente e, quando erramos, não temos receio de pedir desculpas.
FM - Aqui no Brasil, a BBC tem parceria com a rádio CBN. Existe troca entre vocês ou é uma relação unilateral? James Painter - Eu costumo dizer que a BBC é um monstro, devido ao nosso tamanho, mas é um monstro benigno. Somente no serviço de rádio, no qual eu trabalho há mais tempo, temos mais de 150 milhões de ouvintes por semana. As parcerias que nós fazemos são firmadas com o intuito de fortalecer os dois lados. Por isso, existe, sim, uma troca. Nós temos um efetivo pequeno aqui no Brasil. Se não fossem as parcerias, que, além da CBN, temos com portais de Internet e agências [de notícias], não conseguiríamos dar conta deste país.
FM - Qual o modelo de mídia brasileiro que mais se aproxima da BBC? AM - É a TV Cultura, de São Paulo. Isso porque eles são financiados por uma instituição, a Fundação Padre Anchieta. No entanto, somos muito diferentes.
FM - Como assim, diferentes? AM - A Fundação Padre Anchieta recebe dinheiro do governo [do estado de São Paulo] e repassa para a TV Cultura. Quando o governo não gosta de alguma, corta a verba e a Cultura fica em situação de miséria, como aconteceu há pouco tempo, o que é lamentável.
FM - E de onde vem o dinheiro da BBC? JP - Vem do bolso dos cidadãos. Somos uma empresa pública porque quem banca a BBC são os ingleses. Cada residência que possui TV paga, por ano, 116 libras [cerca de R$ 630] pela licença para assistir à televisão. Então, 96,1% de todo nosso financiamento vem desse pagamento. É algo em torno de US$ 4,5 bilhões por ano. Os outros 3,9% vêm de propagandas comerciais. Por causa disso, 54,6% de toda a nossa receita são destinados à TV. 15,1% financiam os correspondentes, 12% vão para a rádio, 10,3%, para o Online, 5,9% são para a rádio digital e os 10,3% que sobram são usados para cobrir gastos com transmissão."
Por Marcellus Rocha
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
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