quarta-feira, 12 de agosto de 2009

ESTUDO DE CASO

"Case Study Research: design and methods" Robert K. Yin
Tradução e síntese: Prof. Ricardo Lopes Pinto
Adaptação: Prof. Gilberto de Andrade Martins


As estratégias de pesquisa em Ciências Sociais podem ser: experimental; survey (levantamento); histórica; análise de informações de arquivos (documental) e estudo de caso. Cada uma dessas estratégias pode ser usada para propósitos: exploratório; descritivo; explanatório (causal). Isto significa que o estudo de caso poderá ser: exploratório; descritivo ou explanatório (causal). Sendo mais freqüente os estudos de caso com propósitos exploratório e descritivo.

A estratégia de pesquisa dependerá do tipo de questão da pesquisa; grau de controle que o investigador tem sobre os eventos; ou o foco temporal (eventos contemporâneos X fenômenos históricos).

O Estudo de Caso é preferido quando: o tipo de questão de pesquisa é da forma “como” e por quê ?; quando o controle que o investigador tem sobre os eventos é muito reduzido; ou quando o foco temporal está em fenômenos contemporâneos dentro do contexto de vida real.

O Estudo de Caso explanatório (causal) pode ser complementado por Estudo de Caso descritivo ou exploratório.

A necessidade de se utilizar a estratégia de pesquisa “Estudo de Caso” deve nascer do desejo de entender um fenômeno social complexo.


Geralmente, quando a pergunta de pesquisa é da forma “como?” ou “por quê? As estratégias poderão ser: estudo de caso, pesquisa histórica ou experimental.

Argumentos mais comuns dos críticos do Estudo de Caso:

· Falta de rigor

· Influência do investigador – falsas evidências, visões viesadas.

· Fornece pouquíssima base para generalizações

· São muito extensos e demandam muito tempo para serem concluídos

Respostas às críticas:

· Há maneiras de evidenciar a validade e a confiabilidade do estudo;

· O que se procura generalizar são proposições teóricas (modelos) e não proposições sobre populações. Nesse sentido os Estudos de Casos Múltiplos e/ou as replicações de um Estudo de Caso com outras amostras podem indicar o grau de generalização de proposições.

· Nem sempre é necessário recorrer a técnicas de coleta de dados que consomem tanto tempo. Além disso, a apresentação do documento não precisa ser uma enfadonha narrativa detalhada.

A essência de um Estudo de Caso, ou a tendência central de todos os tipos de Estudo de Caso é que eles tentam esclarecer “uma decisão ou um conjunto de decisões: por que elas foram tomadas ? como elas foram implementadas? e, quais os resultados alcançados?

Um Estudo de Caso é uma pesquisa empírica que:

· Investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto real;

· As fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes;

· Múltiplas fontes de evidências são utilizadas.

Aplicações do Estudo de Caso:

· Explicar ligações causais em intervenções ou situações da vida real que são complexas demais para tratamento através de estratégias experimentais ou de levantamento de dados;

· Descrever um contexto de vida real no qual uma intervenção ocorreu;

· Avaliar uma intervenção em curso e modificá-la com base em um Estudo de Caso ilustrativo;

· Explorar aquelas situações nas quais a intervenção não tem clareza no conjunto de resultados.

Componentes do “design da pesquisa”

· Uma questão de estudo do tipo: como? e/ou por quê?

· Proposições orientadoras do estudo, enunciadas a partir de questões secundárias;

· Unidade de análise: indivíduo? organização? setor? ...

· Estabelecer a lógica que ligará os dados às proposições do estudo;

· Critérios para interpretar os achados – referencial teórico e categorias

Não se deve confundir “generalização analítica” – própria do Estudo de Caso – com “generalização estatística”. O que se generaliza, no Estudo de Caso, são os aspectos do ‘modelo teórico encontrado’. O caso não é um elemento amostral.

Critérios para julgar a qualidade do “design” da pesquisa através de testes lógicos:

Validade de constructo: estabelecer definições conceituais e operacionais dos principais termos e variáveis do estudo para que se saiba exatamente o que se quer estudar – medir ou descrever. O teste é realizado através a busca de múltiplas fontes de evidência para uma mesma variável.

Validade Interna: estabelecer o relacionamento causal que explique que em determinadas condições (causas) levam a outras situações (efeitos). Deve-se testar a coerência interna entre as proposições iniciais, desenvolvimento e resultados encontrados.

Validade Externa: estabelecer o domínio sobre o qual as descobertas podem ser generalizadas. Deve-se testar a coerência entre os achados do estudo e resultados de outras investigações assemelhadas.

Confiabilidade: mostrar que o estudo pode ser repetido obtendo-se resultados assemelhados. O protocolo do Estudo de Caso e a base de dados do estudo são fundamentais para os testes que indicam confiabilidade.

Sobre a preparação para a condução de um Estudo de Caso:

Treinamento do investigador para assegurar que ele tenha as habilidades desejadas para extrair do caso as informações relevantes através de procedimentos fortemente baseados na percepção e na capacidade analítica. São características desejáveis: ser capaz de formular boas questões e de interpretar as respostas. Ser bom ouvinte e não ficar prisioneiro de seus preconceitos. Ser adaptativo e flexível sem perder o rigor – não ter receio, se necessário, escolher outros casos, coletar outras informações, ou decidir refazer o “design”. Ter grande conhecimento sobre os assuntos que estão sendo estudados – como a coleta e a análise ocorrem ao mesmo tempo ele atua como um detetive que trabalha com evidências convergentes e inferências. O investigador deve ter uma postura de neutralidade para evitar a introdução de vieses ou de noções pré-concebidas, para tanto, sempre que possível deve documentar os dados coletados.

O protocolo do Estudo de Caso é mais que um instrumento pois contém os procedimentos e as regras gerais que deverão ser seguidas. A função do protocolo é a de aumentar a confiabilidade da pesquisa ao servir como guia ao investigador ao longo das atividades do estudo. O protocolo deve ser composto das seguintes seções:

Visão geral do projeto de Estudo de Caso: deve apresentar, de forma sumária, informações sobre o “background” teórico que sustenta o estudo. Deve também apresentar um documento que possa informar aos entrevistadores (e/ou à organização na qual se pretende fazer a coleta de dados) quais são os objetivos da pesquisa, e suas questões orientadoras iniciais.

Como os dados são coletados sob condições de ambiente não controlado, isto é: em contexto real, é o investigador que deve adaptar seu plano de coleta de dados e informações à disponibilidade dos entrevistados. Em outras palavras, é o entrevistador que deve se introduzir no mundo do objeto, e não o contrário, como ocorre com estratégias de pesquisa em ambiente controlado. Isso significa que o comportamento do pesquisador pode sofrer restrições. Por isso, é importante Ter em mente que não se poderá contar com instrumentos rígidos (tipo questionário com questões de múltipla escolha). Pelo contrário, o mais indicado é formular diretrizes sobre o comportamento do investigador em campo. Sendo assim , sugere-se que sejam enfatizadas as seguintes tarefas nos procedimentos de campo:

· Conseguir acesso à organização-chave e/ou aos entrevistados-chave;

· Munir-se de recursos suficientes para o trabalho em campo (material, local p/ anotações etc.)

· Desenvolver um procedimento para receber ajuda ou orientação de outros investigadores;

· Criar um cronograma relacionando as atividade de coleta de dados em períodos específicos de tempo;

· Preparar-se para a ocorrência de eventos inesperados (mudança na disponibilidade dos entrevistados etc.).

O coração do protocolo consiste em um conjunto de questões que refletem as necessidades da pesquisa. Essas questões diferem daquelas formuladas para um survey (levantamento) por duas razões:

As questões são formuladas para o investigador e não para os respondentes;
Cada questão deve vir acompanhada por uma lista de prováveis fontes de evidência. Essas fontes podem incluir entrevistas individuais, documentos ou observações. A associação entre questões e fontes de evidência é extremamente útil na coleta de dados.

Em casos múltiplos as questões serão as mesmas para cada caso. No protocolo é indicado o formato do relatório final. Não há um formato único para relatório de Estudo de Caso. O que deve orientá-lo é o grau de facilidade de entendimento e compreensão do leitor.

Quando possível podem ser realizados estudos de casos-piloto que, evidentemente oferecem melhores condições quando da realização do Estudo de Caso propriamente dito.

Fontes de evidências

Documentos: a pesquisa documental deve constar do plano de coleta de dados. Cartas, memorandos, comunicados, agendas, planos, propostas, relatórios, cronogramas, jornais internos etc. O material coletado e analisado é utilizado para corroborar evidências de outras fontes e/ou acrescentar informações. É preciso Ter em mente que nem sempre os documentos retratam a realidade. Por isso, é importantíssimo tentar extrair das situações as razões pelas quais os documentos foram criados. Os documentos podem fornecer “pistas” sobre outros elementos. Como geralmente a pesquisa documental pode ser feita de acordo com a conveniência do pesquisador (ao contrário do que ocorre com a entrevista) é aconselhável que o pesquisador se prepare para aproveitar os “gaps” entre entrevistas para fazê-la.

Registros em arquivos é outra fonte de evidências. As entrevistas constituem a principal fonte de evidência de um Estudo de Caso. Trata-se de relato verbal sujeito a problemas de viés, recuperação de informações e/ou de articulação imprecisa. Quando possível usar gravador. Há três tipos de entrevistas: aberta – para extrair fatos; opiniões, “insights”; focada – perguntas previamente formuladas. Servem para corroborar o que o investigador pensa a respeito de determinada situação. A terceira maneira de condução de uma entrevista é a estruturada – perguntas pré-formuladas com respostas fechadas.

Além dos instrumentos já enunciados para evidenciar a realidade que se deseja estudar tem-se a observação direta; observação participante e também o uso de artefatos físicos.

Três princípios para coleta de dados:

a) Usar múltiplas fontes de evidência

O uso de múltiplas fontes de evidência permite o desenvolvimento da investigação em várias frentes – investigar vários aspectos em relação ao mesmo fenômeno. As conclusões e descobertas ficam mais convincentes e apuradas já que advém de um conjunto de corroborações. Além disso os potenciais problemas de validade de constructo são atendidos, pois os achados, nestas condições, são validados através várias fontes de evidência.

b) Construir, ao longo do estudo, uma base de dados

Embora em Estudo de Caso a separação entre a base de dados e o relato não sejam comumente encontrada, sugere-se que essa separação acontece para se garantir a confiabilidade do estudo, uma vez que os dados encontrados ao longo do estudo são armazenados, possibilitando o acesso de outros investigadores. Os registros podem se dar através: notas, documentos, tabulações e narrativas (interpretações e descrições dos eventos observados, registrados...).

c) Formar uma cadeia de evidências

Construir uma cadeia de evidências consiste em configurar o estudo de caso de tal modo que se consiga levar o leitor a perceber a apresentação das evidências que legitimam o estudo desde as questões de pesquisa até as conclusões finais. Assim como em um processo judicial, o relato do Estudo de Caso também deve assegurar que cada evidência apresentada foi coletada na “cena do crime”. Além disso, deve deixar claro que outras evidências não forma ignoradas e que aquelas que forma apresentadas não estão maculadas por vieses.

Análise das evidências

A análise das evidências é o menos desenvolvido e mais difícil aspecto da condução de um Estudo de Caso. O sucesso depende muito da experiência, perseverança e do raciocínio crítico do investigador para construir descrições, interpretações que possibilitem a extração cuidadosa das conclusões. Um tratamento – organização e tabulação dos dados ajuda a análise. Mais importante nesta fase é Ter-se definida uma estratégia analítica geral já que isso significa tratar imparcialmente as evidências, extrair conclusões analíticas e apresentar interpretações e descrições alternativas. O papel da estratégia geral é ajudar o investigador a escolher entre diferentes técnicas e a completar com sucesso a fase analítica da pesquisa. Há duas maneiras de se formatar a estratégia geral: basear-se nas proposições teóricas – referencial teórico – ou desenvolver uma criativa descrição do caso.

Basear-se em proposições teóricas é a forma mais comum para se analisar as evidências de um caso. Os objetivos e o “design” inciais do estudo presumivelmente foram baseados sobre essas proposições, as quais refletem um conjunto de questões de pesquisa, revisões da literatura e novos “insigts”. De fato, como as proposições de certa forma modelam o plano de coleta de dados deve-se dar prioridade a essa estratégia geral. Sendo assim, as proposições podem fornecer a orientação teórica que direcionará a análise do estudo. Isso ajuda a focalizar a atenção sobre certos dados e a ignorar outros, além de auxiliar a organizar o estudo como um todo e a definir explanções alternativas a serem examinadas – proposições teóricas sobre relações causais – perguntas do tipo “como?” “por quê?” – podem ser úteis para direcionar a análise do estudo de caso.
A estratégia de descrição é menos preferível, servindo de alternativa quando não se tem um referencial teórico. Buscam-se identificar ‘links” causais entre variáveis e eventos observados, e/ou registrados quando do levantamento de campo. A descrição está para uma avaliação qualitativa assim como a mensuração para uma avaliação quantitativa.

A construção ou o uso de ‘categorias’ deve ser buscado em qualquer das duas alternativas de análise apresentadas acima. Análises orientadas por categorias já testadas em outros estudos, ou teoricamente fundamentadas oferecem qualidade ao trabalho.

A busca da explicação deve ser intensa durante todo o processo de condução do estudo. Afinal, a categoria mais importante, ao lodo do caráter preditivo dos achados pelo método científico, é a explicação. Para explicar um fenômeno deve-se especificar um conjunto de ‘links’ causais.

Composição do relato do Estudo de Caso

A redação do caso exige muito esforço e habilidade de redigir. Um bom relato começa a ser composto antes da coleta de dados – na verdade, várias decisões envolvendo a redação do devem ser tomadas nas fases anteriores para que se aumente as chances de produção de um estudo de qualidade. Como já dito anteriormente o formato do relatório advindo do Estudo de Caso – monografia, dissertação etc. – não carece de ser apresentado do modo tradicional: introdução, questão de pesquisa, objetivo, hipótese, revisão da bibliografia., metodologia, análise dos resultados e conclusões. Não há um formato único. O estilo de se construir o relatório dependerá da criatividade e engenhosidade do autor.

O que faz um Estudo de Caso exemplar ?

Um Estudo de Caso exemplar exige o emprego dos procedimentos metodológicos já descritos anteriormente (protocolo do estudo; construção de uma cadeia de evidência; estabelecimento de base de dados etc.). Entretanto, isso é condição necessária porém não suficiente para o sucesso. Além disso, é necessário também conseguir que as características descritas a seguir estejam presentes no relatório final:

O Estudo de Caso deve ser significativo

Evidentemente, se o investigador só tem acesso a poucos locais para coleta de dados e/ou conta com recursos muito limitados as chances de que ele consiga fazer um estudo exemplar são mínimas.

Um trabalho exemplar é aquele em que; os casos individuais são raros e de interesse público geral e/ou os assuntos subjacentes são nacionalmente importantes – em termos teórico político ou prático.

Um modo de evitar a escolha de casos desfavoráveis a um bom trabalho é descrever, antes da escolha, detalhes sobre a contribuição a ser feita na hipótese do estudo ser terminado. Se nenhuma resposta satisfatória for encontrada deve-se reconsiderar a escolha feita.

O Estudo de Caso tem que ser completo

Um Estudo de Caso completo pode ser caracterizado em ano menos três modos:
Quanto às fronteiras – o Estudo de Caso completo é aquele em que as fronteiras – isto é, a distinção entre o fenômeno estudado e seu contexto – são definidas. A melhor forma de fazer isso é mostrar, através de argumentos lógicos e da apresentação de evidências, que a periferia analítica foi alcançada (ou seja, que a relevância da informação vai diminuindo rumo aos limites definidos como fronteira).

Quanto à coleção de evidências; um Estudo de Caso completo deve demonstrar de modo convincente que o investigador gastou exaustivos esforços na coleta de evidência relevante. A meta é convencer o leitor de que muito pouca evidência relevante escapou da investigação.

Quanto ao tempo e aos recursos necessários: um Estudo de Caso não estará completo se terminar apenas porque acabaram-se os recursos ou porque o tempo disponível esgotou-se. É necessário fazer uma boa previsão na fase do “design” para evitar falta de tempo e recursos.

O Estudo de Caso tem que considerar perspectivas alternativas

Para Estudos de Casos explanatórios, uma valiosa abordagem é a consideração de proposições rivais e a análise de evidência em termos dessas proposições. Para Estudos de Caso explanatórios ou descritivos, o exame das evidências de diferentes perspectivas irá aumentar as chances de que o estudo seja exemplar. As diferentes visões teóricas sobre determinado fenômeno constituem a orientação para discussões sobre aceitação ou rejeição de perspectivas alternativas.

O Estudo de Caso tem que mostrar suficientes evidências

O Estudo de Caso tem que ser composto de maneira a engajar o leitor.

Fonte:www.focca.com.br/cac/textocac/Estudo_Caso.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário