domingo, 14 de junho de 2009

Resumo do Livro "Em Busca da Política"

BAUMAN, Zygmunt. Em busca da Política. Tradução Marcus Penchet. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2000.

"O livro “Em busca da política”, começa com um tema interessante dizendo que As crenças não precisam ser coerentes para que se acredite nelas. E as que costumam ter crédito hoje – nossas crenças – não são exceção (Bauman, p. 09). É interessante observar no texto,a questão da liberdade na “nossaparte” do mundo e o sentimento de força que nós temos em relação ao mundo, chega a um ponto que esmorece a nossa vontade de lutar, sendo também apresentada no texto toda a importância da liberdade individual que se assegura na coletividade. O texto nos apresenta duas crenças em relação à liberdade no mundo: À vontade de lutar e a perda da vontade de lutar. O mundo Contemporâneo carrega um grande problema que estagna as relações sociais que é o “individualismo ou autocentrismo” (Hunter, p, 93). A palavra liberdade tem muitos sentidos, mas estas diferenças não devem permitir que as nossas crenças se tornem inexistênciais diante das nossas ações no mundo. Pois, aquilo que acreditamos só concretiza-se quando cremos. Viver neste mundo é saber que ele é contraditório, mas mesmo vivendo em meio a esta realidade não ficamos preocupados com isso. É neste ponto que se observa o nosso desinteresse em torno dos acontecimentos do dia-dia como: mortes, mensalões e roubos. O saber pode ser usado de forma “cínica”: sendo o mundo o que é, pensemos numa estratégia que permitirá utilizar a sua regras para tirar o máximo de vantagem; quer o mundo seja justo ou injusto, agradável ou não, isso não vêm ao caso (Bauman, p. 10). Com o conhecimento, mulheres e homens que são livres, em alguns momentos podem ter a possibilidade de exercer a sua liberdade, pois, sem conhecimento a pessoa não sabe discernir com sabedoria aquilo que está acontecendo na realidade mundial, ou seja, não aguça o seu senso crítico. Um dos pontos mais importantes comentados no texto é a parte que apresenta a impotência coletiva no momento em que a vida pública e privada são destruídas; neste ponto podemos observar a questão da liberdade individual, que é enfraquecida no momento em que “o estado no contrato normatiza toda a conduta humana”. No contexto político é muito interessante ser aplicado no juizo comum, pois, a capacidade do público ocupar o lugar privado é cada vez mais complicado. O público é uma forte referência ao estado, enquanto o privado é o direito pessoal que cada ser possui dentro da capacidade que lhe é conferida."

Fonte:Blog Shovoong

Vida para consumo – Zygmunt Bauman

A “subjetividade” dos consumidores é feita de opções de compra – opções assumidas pelo sujeito e seus potenciais compradores; sua descrição adquire a forma de uma lista de compras. O que se supõe ser a materialização da verdade interior do self é uma idealização dos traços materiais – “objetificados” das escolhas do consumidor.

Pode se dizer que o “consumismo” é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humano rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ” neutros quanto ao regime” transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos,desempenhando ao mesmo tempo um papel nos processos de auto- identificação individual e do grupo, assim como na seleção de execução de políticas de vida individuais. O “consumismo” chega quando o consumo assume o papel-chave que na sociedade dos produtores era exercido pelo trabalho.

Stephen Bertman cunhou os termos “cultura agorista” e “cultura apressada” para denotar a maneira como vivemos em nosso tipo de sociedade. Podemos dizer que o consumismo líquido-moderno é notável, mais que por qualquer outra coisa, pela (até agora singular) renegociação do significado do tempo.

Tal como experimentado por seus membros, o tempo na sociedade moderna não é cíclico nem linear como costumava ser para os membros de outras sociedades. Em vez disso para usar a metáfora de Michael Maffesoli, ele é “pontilhista”, um tempo pontuado, marcado (senão mais) pela profusão de rupturas e descontinuidades,…A vida, seja individual ou social, não passa de uma sucessão de presentes, uma coleção de momentos experimentados em intensidades variadas.

A vida ‘agorista” tende a ser “apressada”. A oportunidade que cada ponto pode conter vai segui-lo até o túmulo; para aquela oportunidade não haverá “segunda chance”. Cada ponto pode ter sido vivido como um começo total e verdadeiramente novo, mas se não houve um rápido e determindado estímulo à ação instantânea, a cortina pode ter caído logo após o começo do ato, com pouca coisa acontecendo no intervalo. A demora é o serial killer das oportunidades.

Sim, é verdade que na vida “agorista” dos cidadãos da era consumista o motivo da pressa, é em parte, o impulso de adquirir e juntar. Mas o motivo que torna a pressa de fato imperativa é a necessidade de descartar e substituir.

Como calculou Ignacio Ramonet, nos últimos 30 anos se produziu mais informação no mundo do que nos 5.000 anos anteriores: “Um único exemplar da edição dominical do New York Times contém mais informação do que seria consumida por uma pessoa culta do século XVIII durante toda a vida.”

“Há informação demais por aí”, conclui Eriksen. ” Uma habilidade fundamental na sociedade da informação consiste em se proteger dos 99,9% de informações oferecidas que são indesejadas.”

Sugiro que a idéia de “melancolia” representa, em última instância, a aflição genérica do consumidor ( o Homo eligens, por decreto da sociedade de consumo); um distúrbio resultante do encontro fatal entre a obrigação e a compulsão de escolher/ o vício da escolha e a incapacidade de fazer essa decisão.

Que os seres humanos sempre preferiram a felicidade à infelicidade é uma observação banal, um pleonasmo, já que o conceito de “felicidade” em seu uso mais comum diz respeito a estados ou eventos que as pessoas desejam que aconteçam, enquanto a ” infelicidade” representa estados ou eventos que elas queiram evitar. Os dois conceitos assinalam a distância entre a realidade tal como ela é e uma realidade desejada. Por essa razão, quaisquer tentativas de comparar graus de felicidade experimentados por pessoas que adotam modos de vida distintos em relação ao ponto-de-vista espacial ou temporal só podem ser mal-interpretadas e, em última análise, inúteis.

A maior atração de uma vida de compras é a oferta abundante de novos começos e ressurreições (chances de renascer).

“Consumir”, portanto, significa investir na avaliação social de si próprio, o que, numa sociedade de consumidores, traduz-se em “vendabilidade”: obter qualidades para as quais já existe uma demanda de mercado, ou reciclar as que já possui, transformando em mercadorias para as quais a demanda pode continuar sendo criada.

Os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo, e é a qualidade de ser uma mercadoria de consumo que os torna membros autênticos dessa sociedade.

Citando Nietzche, Anders sugere que hoje em dia o corpo humano ( ou seja o corpo tal como foi recebido por acidente da natureza ) é algo que deve “ser superado” e deixado para trás. O corpo “bruto”, despido de adornos, não reformado e não trabalhado, é algo de que se deve ter vergonha: ofensivo ao olhar, sempre deixando muito a desejar e, acima de tudo, testemunha da falência do dever, e talvez da inépcia, ignorância, impotência e falta de habilidade do “eu”. O “corpo nú”, objeto que por consentimento comum não deveria ser exposto por motivo de decoro e dignidade do “proprietário”, hoje e, dia não significa, como sugere Anders “o corpo despido, mas um corpo onde nenhum trabalho foi feito.”

Num romance com o ótimo título Slowness, Milan Kundera revela o vínculo íntimo entre velocidade e esquecimento ” O nível da velocidade é diretamente proporcional à intensidade do esquecimento”.

A chegada da liberdade, no avatar escolhido pelo consumidor, tende a ser vista como um ato estimulante de emancipação seja das obrigações angustiantes e proibições irritantes, ou das rotinas monótonas e massantes. Logo que a liberdade se estabelece e se transforma numa rotina diária, um novo tipo de terror, não menos apavorante do que aqueles que a liberdade deveria banir, empalidece as memórias de sofrimentos e rancores de passado: o terror da responsabilidade.

Seria difícil exagerar o poder curativo ou tranquilizador dessa ilusão de domínio sobre o tempo – o poder de dissolver o futuro no presente e de resumi-lo no “agora”. Se como afirma Alain Ehrenberg de maneira convincente, os sofrimentos humanos mais comuns nos dias de hoje tendem a se desenvolver a partir de um excesso de possibilidades, e não de uma profusão de proibições, como ocorria no passado, e se a oposição entre possível e impossível superou a antinomia do permitido e do proibido como arcabouço cognitivo e critério essencial de avaliação e escolha da estratégia de vida, deve-se apenas esperar que a depressão nascida do terror da inadequação venha substituir a neurose causada pelo horror da culpa ( ou seja, da acusação de inconformidade que pode se seguir à quebra das regras ) como a aflição psicológica mais característica e generalizada dos habitantes da sociedade de consumidores.

Outro serviço que uma existência vivida sob estados de emergência recorrentes ou quase perpétuos ( ainda que produzidos de maneira artificial ou enganosamente proclamados) pode oferecer à saúde mental de nossos contemporâneos é uma versão atualizada da ” caça a lebre” de Blaise Pascal, ajustada a um novo ambiente social. Trata-se de uma caçada que, em total oposição a uma lebre já morta, cozinhada e consumida, deixa o caçador com muito pouco tempo, ou mesmo nenhum, para refletir sobre a brevidade, o vazio, a falta de significado ou a inutilidade de suas ações mundanas e, por extensão, de sua vida na Terra como um todo.

A vida de consumo não pode ser outra coisa senão uma vida de aprendizado rápido, mas também precisa ser uma vida de esquecimento veloz. Refere-se acima de tudo, a estar em movimento."

Fonte:Blog Grifando

Resumo: PRÁTICAS POLÍTICAS E CIDADANIA NO SITE DE RELACIONAMENTO ORKUT: Individualismo e auto-afirmação nas comunidades virtuais – Márcia Vidal Nunes

Hipótese: “O site de relacionamento orkut reflete uma nova forma de interação social virtual, onde as dimensões da identidade, da participação em comunidades e do exercício da cidadania passam por profundas redefinições (…) um exemplo, dentre vários, de um espaço onde se busca forjar essa identidade fluida e, ao mesmo tempo, através da inserção em comunidades, consolidar laços com outras pessoas que tenham interesses afins.” (p. 1)

Questão: “O site de relacionamento orkut usa a internet, para viabilizar ações que levem ao efetivo exercício da cidadania, contribuindo para a democratização dos meios de comunicação, ampliando a politização da população, a participação política e elevando o nível de consciência crítica das pessoas? Ou estes sites não teriam qualquer tipo de compromisso com a participação, o exercício da cidadania e a compreensão do individuo em torno do mundo que o cerca?” (p. 2)

Condições da Produção de Subjetividade: “No novo ethos da acumulação capitalista flexível, a identidade pessoal tem de ser plástica o suficiente (sem os retardamentos de natureza ética do self tradicional) para ajustar-se à veloz mutabilidade do mercado (de capitais, de idéias e profissões) e das tecnologias de trocas inter-humanas.” (p. 3)

Resultado é uma subjetividade pautada por uma identidade líquida: “Segundo BAUMAN (2003), a identidade deve continuar flexível e sempre passível de experimentação e mudança; deve ser o tipo de identidade “até nova ordem”. A realidade de desfazer-se de uma identidade no momento em que ela deixa de ser satisfatória, ou deixa de ser atraente pela competição com outras identidades mais sedutoras é muito mais importante do que o “realismo” da identidade buscada ou momentaneamente apropriada.” (p. 3)

Identidade e Democracia: “RAZIO (1999, p. 97) afirma que o processo de estrangulamento deliberado da democracia vem levando a uma fragmentação paulatina da sociedade. Com isto, vêm sendo destruídos dois fundamentos decisivos da democracia liberal, ou seja, o princípio do governo responsável e de um povo democrático com capacidade consensual. O resultado é uma democracia vazia e carente de sentido, como acontece ao conceito de cidadania. (…) Vivemos num mundo de democracias formais, não reais, onde mandam os investidores e os especuladores financeiros, não os governos.” (p. 5)

TICs e Democracia: “Para MOHME (1999:108), os meios de comunicação de massa devem contribuir para a democratização da comunicação, sendo os intermediários entre a cidadania e a classe política, canalizando, difundindo, multiplicando ou diminuindo determinadas opiniões. Outorgam e retiram a credibilidade a determinados líderes e formações políticas. Uma segunda tarefa em prol da democratização é permitir a expressão das opiniões do cidadão comum, de maneira que termine o círculo vicioso de opiniões e confirmações ou discrepâncias entre os membros da classe política que termina afastada cada vez mais dos interesses e inquietudes concretos da cidadania.” (p. 5)

Identidade e Orkut: “No orkut, o indivíduo é identificado a partir do perfil que ele mesmo apresenta de si. Parte da constituição desse perfil é dada por elementos pré-estabelecidos, sem dar liberdade para que a pessoa se auto-defina. Isso leva à construção de uma identidade “camisa de força” onde o indivíduo está muito mais preocupado em se enquadrar do que definir o que de fato é.
A formação da identidade por uma adesão ao modo pré-estabelecido de existir, definido na multiplicidade de opções delimitada pelo site, confere ao indivíduo a confortável sensação de aconchego, proteção e segurança,de fazer parte, momentaneamente, de uma comunidade, que vai aceitá-lo e amá-lo pelos simples fato dele ter-se “adequado” às regras pré-estabelecidas para sua inclusão.” (p. 7)

Exemplo: “Dentro da comunidade “Eu sou brasileiro” o participante é tomado pela mão, para assumir uma das primeiras identidades que lhe acompanha a vida toda (pertence-se a um território), mas também a de sentir um orgulho particular no lugar onde a comunidade não acessa.” (p. 10)

Fonte:Blog do Daniel Ávila

quinta-feira, 11 de junho de 2009

VII Encontro Nacional de História da Mídia

Constituída em 2000, num encontro realizado na Associação Brasileira de Imprensa e reunindo pesquisadores de diversas Universidades brasileiras, além de integrantes da BN, do IHGB, da ABI, a Rede de Pesquisadores de História da Mídia, que recebeu o nome de REDEALCAR, em homenagem ao historiador pernambucano Alfredo de Carvalho (foi o responsável pelo resgate histórico da imprensa do século XIX, quando das comemorações do centenário da implantação

da imprensa no país, em 1908), vem realizando desde então uma série de atividades – incluindo Congressos Nacionais de História da Mídia, realizados anualmente – para implementar as pesquisas históricas em torno das questões midiáticas.


Constitui-se, portanto, um novo movimento cultural reunindo pesquisadores de centenas de universidades públicas e privadas de todo o Brasil, no sentido de preservar a memória da imprensa e construir a história midiática nacional.
Mas as ações da Rede no sentido da preservação da memória da imprensa brasileira vão além da realização dos encontros anuais. A sua plataforma de ação inclui, como item prioritário, a atualização do inventário da imprensa brasileira. Deseja-se completar as lacunas deixadas pela equipe de 1908, além de fazê-lo avançar até 2008. Mais do que isso: pretende-se realizar a interpretação dos dados acumulados, construindo indicadores capazes de balizar o trabalho dos historiadores e dos cientistas da comunicação.

OLHA O LINK

http://www.historiadamidia.com/principal/index.php?option=com_content&view=article&id=46&Itemid=62
BEIJOS LILI

domingo, 7 de junho de 2009

I Colóquio Discurso e Práticas Culturais: inscrições



03-Jun-2009
Estão abertas, até 20 de julho de 2009, as inscrições para o I Colóquio Discurso e Práticas Culturais – Cultura, Cotidiano e Identidades Discursivas.
O Colóquio reunirá, de 11 a 14 de agosto, no Campus do Benfica, pesquisadores em Análise do Discurso e de outras áreas das ciências humanas que tenham como objeto de estudo os fenômenos culturais. As inscrições devem ser feitas, exclusivamente, pelo site www.grupodiscuta.ufc.br.
Os trabalhos podem ser inscritos como pôsteres ou sessões de comunicações (individuais e coordenadas), e devem estar vinculados às seguintes temáticas: discurso literomusical; discurso literário; discurso religioso; discurso, identidade e interculturalidade; discurso regionalista, identidade nacional e globalização; discurso e imagem; e outras relacionadas ao discurso da e sobre cultura e identidade.
Interessados em participar do evento sem submeter trabalhos podem se inscrever até 11 de agosto de 2009. O Dipracs é organizado pelo Grupo de Pesquisa Discurso, Cotidiano e Práticas Culturais (Grupo Discuta), do Programa de Pós-Graduação em Lingüística da UFC.
Outras informações sobre valores, procedimento de inscrição, submissão de trabalhos, minicursos, programação e lançamento de livros podem ser encontradas no site do Grupo Discuta (www.grupodiscuta.ufc.br) ou pelo e-mail
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Fonte: Nelson Barros da Costa, Presidente da Comissão Organizadora do I Colóquio Discurso e Práticas Culturais (Dipracs) /
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Fonte: www.ufc.br

terça-feira, 2 de junho de 2009

MÍDIA SOBRE A MÍDIA -O novo nasce, o velho ainda resiste

Por Venício A. de Lima em 2/6/2009


Após participar de debates sobre a mídia em diferentes cidades do país nas últimas semanas, ocorreu-me a famosa passagem de Antonio Gramsci (1891-1937) nos Cadernos de Cárcere quando ele comenta sobre a "crise de autoridade" (Selections of the Prison Notebooks; International Publishers, New York, 1971; págs. 275-276). Embora, por óbvio, as circunstâncias fossem outras e seja necessária uma pequena adaptação no texto, penso que se aplica ao momento de transição que a mídia vive no Brasil a idéia de que "o velho está morrendo e o novo apenas acaba de nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece". (A frase original correta é: "A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer. Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece".)

O novo e o velho

Não há dúvida de que o espantoso crescimento da inclusão digital, cuja melhor expressão é o acesso à internet através de suportes como o computador pessoal e os celulares, está provocando uma mudança profunda na produção, distribuição e no "consumo" de informações e entretenimento (ver "A mudança sem retorno").

Não há dúvida, também, de que essas mudanças indicam uma quebra da unidirecionalidade histórica da comunicação de massa e a possibilidade de maior pluralidade e diversidade no espaço público com o surgimento, por exemplo, de sites alternativos, blogs e a criação capilar de novas redes sociais. Atores tradicionalmente excluídos do espaço público de discussão e formação de opinião na sociedade brasileira estão tendo, afinal, alguma chance de serem ouvidos. Abriu-se uma enorme janela de oportunidades.

Por outro lado, a velha mídia – sobretudo os jornais diários, mas também as revistas, o rádio e a televisão – apesar das quedas globais de circulação e audiência, do fechamento de jornais e da migração do impresso para a internet, não só resistem em buscar as adaptações que garantirão sua sobrevivência de longo prazo no mercado, mas se apegam às velhas fórmulas. É aí que "sintomas mórbidos aparecem".

Neste contexto, a conhecida prática da busca de leitores pelo desencadeamento de campanhas de denúncias contra pessoas e/ou instituições, independente da procedência das acusações, continua a provocar danos em imagens e reputações que dificilmente serão reparadas, mesmo, se e quando, uma decisão judicial que garanta o direito de resposta for eventualmente cumprida.

"Sintomas" contraditórios

A confirmação do fechamento da Gazeta Mercantil – um jornal especializado em economia que não previu as transformações porque passa o seu setor; a recente compra da agência de notícias global Reuters pela canadense Thomson e o anunciado desmembramento da AOL – provedora de internet – do grupo Time Warner (apesar do controle acionário permanecer integralmente no grupo) são sinais difusos e, aparentemente, contraditórios da universalidade do terremoto na economia política do setor.

Enquanto isso, entre nós, às vésperas da realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, outros sintomas aparecem: o Supremo Tribunal Federal revoga por completo a Lei de Imprensa (5.250/1967), deixando a descoberto o "direito de resposta" e provocando a insegurança jurídica de empresas, instituições e, sobretudo, de cidadãos; o ministro das Comunicações insiste em "reprimir" a juventude que "vive dependurada na internet"; o Senado Federal aprova um projeto de lei que pretende controlar a liberdade existente na internet; o Superior Tribunal de Justiça decide que "não se pode exigir que a mídia só divulgue fatos após ter certeza plena de sua veracidade" e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) concentra seus esforços na exclusão de todos aqueles que não possuem diploma de jornalista do exercício da atividade jornalística.

Riscos da transição

Um dos riscos que se corre, enquanto a transição não se completa, é esquecer que o velho resiste e sobrevive e está mais ativo do que nunca em defesa de seus antigos privilégios. E essa é uma verdade que tem diferentes e matizadas dimensões.

Perder de vista essa realidade significa não só ignorar as lições do passado como adiar possíveis conseqüências que, tudo indica, permitirão que a maioria excluída da população participe do espaço público brasileiro e que tenhamos, afinal, uma mídia mais democratizada.

Fonte:Observatório da Imprensa

FORMAÇÃO DOS JORNALISTAS - Sobre cursos e currículos

Por Muniz Sodré em 2/6/2009


Num livro em que discute a relevância de um certo jornalismo contemporâneo (Simulacro e poder – uma análise da mídia, Editora Fundação Perseu Abramo), Marilena Chauí evoca o episódio da rede de televisão brasileira que obteve uma entrevista exclusiva com o presidente da Líbia, logo após o bombardeio de sua casa pela aviação norte-americana, em 1986. Relata:

"Foi constrangedor para Kadafi e para os telespectadores ouvir as perguntas: `O que o senhor sentiu quando percebeu o bombardeio? O que o senhor achou desse ato dos inimigos?´ Nenhuma pergunta sobre o significado do atentado na política e na geopolítica do Oriente Próximo: nenhuma indagação que permitisse furar o bloqueio das informações a que as agências noticiosas norte-americanas submetem a Líbia".

Esta passagem nos vem à cabeça a propósito da discussão promovida por Alberto Dines no programa televisivo do Observatório da Imprensa (TV Brasil, 26/5/2009, ver "A formação dos jornalistas"), sobre o trabalho de uma comissão encarregada pelo MEC de avaliar o currículo dos cursos de jornalismo no país. Na parte suprimida pela edição do depoimento que demos, levantávamos uma questão bastante rara nos debates sobre o assunto: o problema da determinação da capacidade dos cursos em preparar jornalistas pode estar sendo mal formulado. De fato, cabe uma indagação incômoda: o jornalismo aqui praticado é tão bom a ponto de requerer um optimum de aperfeiçoamento por parte dos futuros profissionais? Ou, então, será que a mídia tal e qual existe em sua totalidade de suportes deseja realmente uma classe "logotécnica" de altíssimo nível?

Escopo mais amplo

É claro que proprietários e dirigentes das mais variadas mídias responderiam afirmativamente a estas perguntas. Afinal de contas, no espaço público – ou publicitário – das tecnodemocracias ocidentais, os responsáveis pelas corporações midiáticas se obrigam à produção de um discurso dito "ético" ou "formativo" sobre a sua atividade. Isto faz parte da manutenção da ideologia liberal que lastreia a atividade jornalística desde o século 19, reforça a doutrina da livre expressão pública e concorre para legitimar os enormes investimentos em publicidade por parte de Estado e conglomerados industriais.

A informação pública de alta qualidade é uma espécie de horizonte mitológico para a deontologia (a ética dos deveres profissionais) jornalística, que necessariamente inclui o discurso da demanda de alta competência técnica.

Mas é isso mesmo o que acontece na prática?

Antes de uma resposta direta, é preciso ressalvar que curso superior nenhum fornece profissionais prontos e acabados para o mundo da produção. Num curso de medicina, por exemplo, os estudantes aprendem, durante seis anos, a aprender, isto é, capacitam-se a filtrar o que lhes será essencial em sua forma específica de produção da saúde e que lhes será efetivamente transmitido na residência médica, o estágio hospitalar, às vezes de duração comparável à da faculdade. Em qualquer caso, aprende-se a produzir ali onde o trabalho se dá, no contexto das forças produtivas. Ao ensino superior cabe formar o cidadão-profissional, abrindo-lhe os caminhos da inserção social por meio da ética e da ciência. No primeiro caso, mostrando-lhe que a técnica não se desvincula dos fins coletivos; no segundo, que a pesquisa científica é o horizonte de alargamento da técnica.

A técnica jornalística é importante, mas em nada comparável à complexidade e aos riscos de vida imediatos inerentes à prática médica. Isto significa que o jornalismo não deva ser objeto de ensino universitário? Claro que não. Em sociedades irreversivelmente midiatizadas (instituições sociais em funcionamento quase simbiótico com mídia), cujo próprio solo relacional é feito de informação, a comunicação é matéria complexa, de conceituação anexa à de cultura.

A ontologia dos fatos sociais em nossa época não é totalmente independente dos dispositivos que os tornam socialmente visíveis. A exemplo da guerra tal como definida por Georges Clemenceau (1841-1929) – "séria demais para ser deixada apenas aos militares" –, a comunicação social tem escopo mais amplo do que o da pura e simples técnica jornalística que, aliás, se aprende em muito pouco tempo. A formação do profissional de informação requer um tipo de conhecimento adequado a um analista social aplicado.

Espírito adormecido

Para além destas ressalvas, há o ensaio de uma resposta direta à pergunta sobre o que acontece na prática profissional das mídias, levando em consideração a realidade da economia midiática, em que uma dúzia de conglomerados globais acrescentam à propriedade dos meios de comunicação tradicionais o controle dos eletrônicos, avaliando as suas atividades em termos estritos de custo-benefício. O que se tem tradicionalmente chamado de jornalismo não escapa a esse tipo de poder, que o leva a tornar-se, para se salvar como produto de mercado, "cada vez mais rápido, inexato e barato".

A essa realidade queríamos aludir no começo, com a citação da análise empreendida por Marilena Chauí. Ela referenda Christopher Lasch (autor de A Cultura do Narcisismo, Editora Imago), para quem...

"...os mass media tornaram irrelevantes as categorias da verdade e da falsidade, substituindo-as pelas noções de credibilidade ou plausibilidade e confiabilidade – para que algo seja aceito como real basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável. Os fatos cederam lugar a declarações de `personalidades autorizadas´, que não transmitem informações, mas preferências, as quais se convertem imediatamente em propaganda".

Por isso, a entrevista de Kadafi "reduziu-se aos seus sentimentos paternos e conjugais perante o terrorismo inimigo", e "o acontecimento político foi transformado em uma tragédia doméstica e da vida pessoal de uma das mais importantes lideranças do mundo árabe".

Talvez não seja suficiente como mote para a reflexão profunda a evocação desse pequeno episódio como emblema do que se está tornando a prática informativa da mídia hegemônica. Mas ele é capaz de despertar o espírito adormecido do que Alfred Jarry (1873-1907) chamou de "patafísica" ou "ciência das soluções imaginárias". Um patafísico perguntaria: em vez de criticar currículos, não seria o caso de os intelectuais coletivos das classes dirigentes conhecidos como "mídias" se matricularem nas escolas de comunicação?

Fonte:Observatório da Imprensa