"Há algum tempo atrás encontrei em algum lugar estes “Secrets of Graduate School Success” e os transcrevi no Twitter (o quinto eu mesmo criei):
1. Do not annoy the professor
2. Be consistently mediocre
3. Avoid anything smacking of originality
4. Do exactly what you are told
5. Learn all the fashionable jargon
Ainda que todos esses princípios possam ser aplicáveis ao meio acadêmico brasileiro, achei que seria interessante aprofundar o tema e adaptar, com riqueza de detalhes, esses “segredos de sucesso” ao nosso cenário tupiniquim. Seguem abaixo, portanto, as nossas indicações. Segui-los ao pé da letra pode, possivelmente, conduzi-lo ao sucesso no mundo da pós-graduação e da pesquisa – ainda que possivelmente ao preço de uma “consistente mediocridade”.
1. Ao escrever seus artigos, busque o estilo mais impessoal, conservador e desprovido de graça que puder imaginar. Nada de títulos muito inventivos, boutades ou argumentos originais. Tente sempre se colocar no lugar de um avaliador da Capes e dê um jeito de enfiar a palavra “comunicação” onde quer que seja possível, principalmente no título e no resumo. Aliás, como a avaliação se baseia unicamente na leitura dos resumos dos textos, invista um bom tempo no aprendizado da arte de escrever resumos;
2. Busque estar sempre atento ao cânon de autores e teorias oficialmente sancionado pelas correntes modas acadêmicas. Para conseguir o imprimatur (nihil obstat) dos poderes estabelecidos é importante manter-se atualizado em relação a esse cânon, que, como toda moda, muda de tempos em tempos. Michel Maffesoli, que nos idos de outrora constituiu uma das principais referências da comunicação no país, agora produz esgares de raiva nos rostos de avaliadores e pareceristas. A semiótica, que um dia foi a última moda da literatura e da comunicação, agora é quase um palavrão acadêmico. No sentido de oferecer uma ajuda nesse complexo cenário do que está “in” ou “out” na academia, preparei a relação de nomes abaixo como exemplos significativos e uma escala de 0 – “nunca usar” a 5 – “pode esbanjar”:
I. Gilles Deleuze – sempre “in”, sempre citado, mas cuidado: ele cheira muito a filosofia para agradar unanimemente aos avaliadores de nossa área. Conceito 3 (grau de risco razoavelmente alto. Use apenas se seu capital acadêmico tive bala na agulha para isso);
II. Giorgio Aganben – super “in”, esse está altamente na moda, especialmente na área específica dos estudos de audiovisual, mas apresenta o mesmo risco do nome anterior, ainda que em grau inferior. Conceito 4;
III. Pierre Lévy – já um pouco desgastado, mas ainda uma referência bastante segura e figurinha fácil na abertura de vários congressos no Brasil. Conceito 4;
IV. Arlindo Machado – entre os nomes nacionais, esse é unanimidade. Nível de segurança e aceitação totais, pode usar e abusar. Conceito 5;
V. Adorno – figura clássica, de boa aceitação, ainda que se prefira seu uso acompanhado de algumas observações críticas. Afinal, ser apocalíptico está definitivamente fora de moda. Conceito 3;
VI. Lev Manovich – popularíssimo! Muito seguro e – apesar de excessivamente utilizado – ainda chique. Conceito 5;
VII. Jesús Martín-Barbero – totalmente “in”; além de bacana e atual, ainda é latino-americano. Um “plus”. Conceito 5;
VIII. C. S. Peirce – não chegue nem perto, a não ser que realmente tenha uma capital acadêmico do tamanho do Amazonas. Como explicado acima, o simples emprego do termo “semiótica” pode ser suficiente para condená-lo às chamas eternas do inferno. Conceito 1.
[Esses são apenas alguns poucos exemplos. A lista seria muito grande e cheia de nuances para caber aqui, mas as indicações já dão uma boa idéia do que seria considerado de "bom tom" em nossos discursos acadêmicos]
3. Procure sempre o difícil equilíbrio entre manter um “low profile” e arrumar um jeito mais ou menos discreto de divulgar tudo o que está fazendo. Aqui também a publicidade é a alma do negócio;
4. Não faça nada para irritar “the powers that be”. Às vezes você não tem nem idéia disso, mas uma eminência do alto clérigo te detesta por não ter sorrido e meneado a cabeça em acordância durante a apresentação de um trabalho dele em algum congresso. A política é a arte do possível, disse Bismarck. Portanto, faça o possível para todo mundo te adorar (especialmente os dirigentes do império intergaláctico);
5. Aja sempre conforme o esperado segundo seu capital acadêmico, de modo a não perturbar a ordem natural das coisas. A escala segue, naturalmente, a seguinte seqüência: 1. mestrandos (habitam lá pelo quinto círculo do inferno, na lama ardente dos pântanos do Estige), 2. doutorandos (ali pelo segundo círculo do inferno, sofrendo nas intermináveis tempestades de ventos), 3. doutores empregados em universidades particulares, exceto as confessionais (localizados no confortável, mas enfadonho limbo), 4. jovens doutores empregados em universidades públicas (assentados no purgatório), 5. antigos doutores empregados em universidades públicas (nas primeiras escalas do empíreo) e 6. antigos doutores que também são pareceristas de órgãos de fomento à pesquisa (sentados à direita do trono divino). Qualquer alteração dessa hierarquia provoca profundas perturbações do sistema e reações anafiláticas nos representates das hostes superiores. Um doutorando capaz de escrever e pensar melhor que um doutor da quinta esfera corre o risco de ser demovido para um dos círculos infernais.
6. Se alguém te perguntar se já leu tal ou tal livro do qual você sequer ouviu falar, simplesmente mova a cabeça e faça algum ruído ininteligível, de modo que seu interlocutor não saiba se a resposta foi sim ou não. Se tiver lido pelo menos a introdução, já está bom e pode dizer com segurança que sim (e não é que aqui também a arte de ler e escrever resumos vem a calhar?).
Depois de ter lido todos esses úteis segredos do sucesso na vida acadêmica, medite no tranqüilo recesso de seus aposentos mais privados e responda a seguinte pergunta: “quero ser professor por que realmente amo o conhecimento, o ensino e a pesquisa? “. Se a resposta for sim, esqueça todas as indicações anteriores e viva perigosamente. É isso o que realmente importa. E todo o resto, como dizia Verlaine, “é literatura”."
Fonte:Blog Carpintaria das Coisas
quinta-feira, 11 de março de 2010
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Show!!! Adorei....rsssssss!
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