A disputa das Eleições 2010 ganhou um espaço significativo na Internet. Os candidatos fizeram suas campanhas no real, porém transpuseram também sua mobilização das ruas para o virtual. Os comitês de campanha utilizaram a Internet e sua múltiplas ferramentas. Mobilizaram militantes em comunidades de redes sociais, como, por exemplo, o orkut, e utilizaram as mídias sociais dos blogs e do microblog twitter para abrir o debate relacionado aos assuntos que envolvem a esfera política, bem como promover os candidatos para os eleitores, principalmente, os indecisos.
Porém, a contratação de profissionais de comunicação e marketing para coordenar esse trabalho de interação digital, em muitos casos, não surtiu um efeito natural e voluntário. Como blogueiro e usuário do twitter, percebi a diferença daqueles que apenas publicizavam o candidato, sem interagir, de outros trocavam ideias com os internautas e até pediam opiniões. Sem falar nas arrecadações de doações. E por falar em doação, a campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez uso nas mídias sociais ao perceber que existia uma movimentação da sociedade civil em prol de mudanças no jeito de governar dos republicanos.
Os marqueteiros brasileiros importaram a experiência norte-americana, porém não houve um reação imediata e voluntária dos eleitores e militantes brasileiros. Investiram pesado em equipamentos e em profissionais dos mais renomados em comunicação digital. Entretanto, as campanhas políticas não levaram em consideração que muitos lares brasileiros não possuem computador. Naqueles que possuem, poucas pessoas são acostumadas e educadas a utilizar mídias sociais. A intenção para utilizar a Internet como ferramenta de mobilização era das melhores. Só esqueceram de combinar com os hábitos dos brasileiros. O banho de água fria veio quando a candidata a presidência da República, hoje presidenta eleita, Dilma Roussef, se recusou a participar do primeiro debate virtual promovido por vários portais.
O descrédito da Internet para alguns, soava como oportunidade para outros. Assim fizeram os articulistas da campanha de Marina Silva. A rede mundial de computadores foi importante para mobilizar militantes e a opinião pública, a fim de levar a eleição para o 2° turno. Isso sim foi voluntário e sem planejamento. A gravação de vídeos para postagem no youtube e o bandeiraço virtual também foram outras ações que podemos relacionar como voluntárias nas redes e mídias sociais. Mas uma iniciativa, em particular, retirou o eleitor internauta de frente dos computadores, mobilizando militantes e eleitores em Fortaleza. Inverteu -se o processo até então. O movimento #serranãomamae começou como adesivo virtual nas mensagens instantâneas do micro blog twitter e ganhou as ruas da capital cearense. O movimento era liderado por um grupo de cinco jornalistas. Dois desses mobilizadores votaram Marina no 1° turno. No segundo turno, eles apostaram na candidatura de Dilma e bolaram o movimento. Foram produzidos adesivos, bandeiras e até um jingle. A concentração dos bandeiraços, agora, reais, acontecia na esquina das avenidas Antônio Sales e Rui Barbosa. O #serranãomamae tomou um dimensão nacional. Foi elogiado por integrantes da campanha de Dilma quando da passagem dela, em Fortaleza, durante um caminhada na Praça do Ferreira.
Como nem tudo são flores, tanta espontaneidade resvalou também para o campo negativo. As trocas de ofensas entre candidatos e seus militantes também marcaram o uso da Internet como ferramenta de comunicação nas eleições. O uso inapropriado rendeu ações na Justiça e até direito de respostas em uma conta do twitter de um jornalista. Muitos não levaram em consideração que tudo se digita na Internet fica registrado. Porém, a Internet virou um fenômeno nas últimas eleições. Era possível ler e digitar opiniões das mais diversas e interagir com os candidatos. O misto de aposta e descrédito na Internet como aliada de campanhas eleitorais não amadureceu ao ponto de considerar a comunicação digital como um instrumento de grande potencial de mobilização, interação e colaboração. Vamos aguardar se toda esse empolgação resistirá ao tempo até a chegada das eleições municipais de 2012. Quem viver, verá.
(Marcellus Rocha)